quarta-feira, 13 de abril de 2011

Febre de viver de uma garotinha.

Minha irmã me pediu para escrever um texto esperançoso. Que grande desafio! Será que eu consigo?

Bem, o pensamento não foi muito longe até que procriasse, nos meus instintos, um texto, ou mesmo poucas palavras com tal poder, não sei se esperançoso, mas pelo menos real.
Me recordei de hoje cedo. Enquanto comia o meu lanche na sala dos professores e ouvia duas mães conversarem. Uma se queixava com a outra sobre o fato de seu filho, de uns sete anos, (imagino) ainda não conseguir andar de bicicleta. Então de repente, minha infância veio atravessar o meu mundo adulto.
Primeiro, porque uma das primeiras coisas materiais que desejei, foi uma bicicleta. Não uma bicicleta qualquer, mas uma "Ceci", grande, de cor rosa. E levei um bocado de tempo até conseguir uma. Embora não tenha realmente levado um bocado de tempo.
O fato é que, quando se é criança, a noção de tempo não é parecida com a de hoje, como quando sentimos a dor de uma separação, desilusão. O tempo então parece interminável, ainda que só tenha passado 24 horas. Mas nesses anos incríveis não. Nesses anos incríveis, o tempo não vinha acoplado com a ideia de esperar, e sim de conquistar, ou melhor, de ESPERANÇAR! Vibrar quando passava numa loja e avistava aquela que já afirmava "minha bicicleta". Era o tempo de desejar!
Enfim, não levou tanto tempo e logo adquiri a bicicleta.
Segundo, porque me recordei que quando criança, não precisei de rodinha e de alguém para segurar a bicicleta enquanto eu tentava as primeiras pedaladas.
Me lembro claramente, do meu pai e eu estarmos numa pracinha. Eu, com a bicicletinha vermelha de uma das minhas irmãs. Papai me falou um pouco de equilíbrio e de olhar sempre distante, nunca para a roda ou para o chão. Então, sem me segurar nem nada, eu dei as primeiras pedaladas. Tortas e desajeitadas, mas dei. E não me lembro de ter caído nesse período de aprendizagem. Mas é claro, levei belos tombos depois que já me sentia íntima e segura na minha bike, (como tudo na vida, não existe segurança. O mundo não é seguro, a vida é sempre um grande risco, e que delicioso sintoma de viver!).
O mais curioso é que não tenho mesmo lembrança de sentir dificuldade em aprender a andar de bicicleta. Aliás, a palavra "andar" vai bem com a minha cara. Minha mãe me conta, que ainda bem pequena aprendi a andar, sem necessidade alguma de"andador", no tempo que eu bem quis.
Também adoro quando ela conta do meu nascimento. Todo aniversário faço ala repetir essa história. Mamãe conta que entrou no hospital e disse que eu estava nascendo. Ninguém acreditou e uma das enfermeiras mandou que ela literalmente "fechasse as pernas". Mesmo assim, eu nasci exatamente nesse momento, praticamente no corredor. Contrariando o "tempo" estabelecido pelos outros...Tudo por pura pirraça!
Aproveito então para abrir um grande parênteses para desabafar! (Eu sou marrenta, poxa! Por que a maioria dos adultos criam sobre mim uma imagem frágil, inocente, ingênua e até mesmo boba? Os adultos idealizam demais aquilo que querer crer . Aposto que os meus alunos, que convivem comigo todos os dias, não me veem assim. Ainda bem! Criança não materializa as pessoas em palavras. Criança não crê, criança vê. Criança sente.
Acho que não foi à toa que esse amontoado de fragmentos se tornaram tão significativos para mim agora. ME CONHECER, ser eu mesma, ligar o tal do "foda-se" para tudo aquilo que depositam sobre a minha pessoa. Sou tão cretina como qualquer outro ser humano, no duro).

(...)

Meu Deus. Já se passaram tanto tempo desde minha primeira bicicleta! Aquela garotinha, magrela, descabelada e insistente no que queria, onde foi parar? Ela ainda sou eu? Ainda sou ela?
Por favor garotinha, onde quer que você esteja, venha ensinar essa adulta tão desanimada e fadada a esperar por um tal de "tempo certo", que o mundo hostil insiste em gritar. Afinal, garotinha magrela, você tão pouco conhecia esse conceito, e fez tudo sempre no seu próprio tempo. Por que há um tempo fora do cronológico que somente conhecemos se ouvirmos o Deus que habita dentro de cada um de nós.
Hoje vou calar essa adulta perdida e encontrar com a minha garotinha determinada e cheia de esperança. Ela está aqui, eu sei que está.




PS.: Querida irmã pretinha, espero não tê-la desapontado...

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