quarta-feira, 20 de abril de 2011

Marcas do tempo.

Daqui algumas horas pretendo viajar. Digo "pretendo" porque ainda não me decidi. Não sei realmente se devo ir. O coração diz "Vai sim, e entregue-se, aproveite o momento", a razão diz "Não vá!". Mas essa é outra história!
O fato é que, eu precisava de uma mochila menor para evitar levar tanto "peso", e acabei encontrando uma mochila que num tempo "passado" dei de "presente". Olha só essa palavra "presente"! Era pra estar presente para a pessoa a quem se destinou, não era? Mas como diz Allanis "a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você...". O consumado "presente" é que eu acabei com essa mochila. E a mochila que era minha, acabou fazendo parte da última lembrança, daquele dia do "adeus", que somente meus ouvidos escutaram "até logo"...

Enfim, quando abri a mochila, achei uma cartinha escrita por mim que, só pra constar de novo, foi dada de "presente". Está comigo, mas não é minha.
Ou será que é minha agora?

Ela diz assim:

"É hora de arrumar as malas.
Sei que você vai cheio delas: uma com camisetas sujas, meias imundas, cuecas (essas limpas, eu espero - hehehe), enfim, malas lotas e pesadas.
Mas se você for parar pra pensar, aquela mochila que levamos nas costas contém sempre as coisas mais importantes. Simples, mas essenciais para que a nossa viagem fique menos angustiante: um livro (que nunca terminara de ler, mas que leva consigo uma fotografia dentro :)); um caderno, que você pode escrever tudo o que estiver sentindo (e que carrega uma mensagem de amor na contra capa); o seu terrível e inseparável maço de cigarros; sua carteira; e até uma cartinha escrita sob a inspiração de sua própria mochila.
E essa mochila ainda pode ir contigo em todas as paradas que o ônibus der, (durante uma viagem, vai ser ela quem estará sempre com você).
Além de tudo isso, essa mochila é a única coisa que você vai precisar, se por acaso uma saudade apertar...
Escolhi seu presente com o coração.
Espero que goste.
Um beijo terno,
Dayane

Piracicaba, 21 de dezembro de 2005.
(ouvindo radiohead - "High and dry")

Revendo e relendo essa cartinha entendo o porquê sempre tive a maior preocupação em colocar data em todos os meus manuscritos. E não só nos meus, nos que recebia dele, também. Ele sempre dizia que não precisava de data. Eu nunca deixei de colocar.
No fundo, bem lá no fundo, eu queria guardar a data, pra saber que um dia aconteceu, que foi real. Que foi verdadeiro.
Mas agora, o que me importa esses números do calendário gregoriano, na ordem dos acontecimentos da minha vida?

(Puxa! Como sempre, ele continua com a razão).

E eu, o que faço com essa mochila que voltou obedecendo minhas próprias palavras
"é a única coisa que vai precisar se por acaso, uma saudade apertar"?
Ela contém apenas a cartinha.
Mas, não tenho dúvida. Se resolver viajar, vou mesmo com a mochila maior.
Sou incapaz de carregar a mochila menor com tamanho peso.

...

Daya, (sem data).








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